quinta-feira, dezembro 23, 2010

[Reflexão] A grama do vizinho é realmente melhor ?

Hoje quando estava vindo para o trabalho vi uma propaganda de um salão de beleza, pelo que me pareceu, no fundo de um ônibus com os seguintes dizeres: "Fulano, de Londres para o blablabla", onde blablabla é o nome do salão. Daí, sem desmerecer o profissional, eu me perguntei: "o fato de ter vindo de Londres faz alguma diferença?". Acho curioso que um costume tão antigo (isto vem do tempo do império) ainda tenha amplo espaço em nossa terra, a valorização do que vem de fora (leiam os livros 1808 e 1822 e vocês entenderão o que falo). 

Sei que toda experiência internacional é válida e gratificante, mas sinto que o rótulo "made in" causa ainda certo alvoroço entre alguns provincianos daqui. Será que valorizar o que vem de fora nos traz algum tipo de benefício? Creio que não. A valorização do outro traz como conseqüência a subestimação do nosso, do meu. 

Neste cenário, trago uma reflexão para a nossa área de tecnologia local. O que será que falta para termos um salto significativo em desenvolvimento, geração de empregos, empresas, pesquisa? 

Em minha opinião, creio que faltam, fundamentalmente, boas políticas públicas. Penso que não é necessária a espera da construção de um "Epcot Center" para empreender um parque tecnológico em nossa região. Com bem pouco, talvez, conseguiremos o mesmo êxito. Em meus pensamentos, o local pouco importa para mover as pessoas, mas sim o lugar. E o lugar poderia ser em qualquer local. Mais importante que "ter" o parque tecnológico é "ser" parque tecnológico.

Lembro de um projeto antigo do governo retrasado (não fazendo aqui qualquer exame de mérito de governo) que se chamava condomínio digital. Pelo que recordo, consistia em utilizar alguns prédios e galpões do porto da cidade baixa para a fomentação de escritórios e núcleos de empreendedorismo. A coisa funciona de forma bem simples. Aloca-se um lugar, levanta-se várias salas com divisórias e oferta-se vários serviços compartilhados (bancos, gráficas, internet, secretariado, SEBRAE, etc). Tudo isto à um custo acessível para empresas iniciantes. Uma verdadeira incubadora de empreendedorismo. F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O.

Para onde foi esta idéia ? Não se sabe...

O que se sabe é que por falta de uma cultura de ecossistema local existe uma legião de jovens com baixo espírito empreendedor reclamando da baixa remuneração das empresas locais. Para estes, deixo claro que, para mim, empreendedorismo não é só criar uma empresa, mas investir em uma carreira, buscar formação complementar, não parar de estudar e explorar oportunidades. 

Atualmente estou trabalhando com uma turma da disciplina Sistemas de Informação na UNEB em um trabalho semestral voltado ao desenvolvimento de idéias inovadoras. Simplesmente, peguei o formulário do concurso homônimo da FAPESB e pedi que eles criassem algo novo. Os resultados têm sido bastante animadores, com idéias viáveis para se tornarem produtos comerciais. A mesma empolgação é demonstrada com nossos pesquisadores de futebol com robôs. Bastou ter um trabalho sério, saber mobilizar talentos, para colher excelentes frutos. Para uma "garota" ou "garoto" que dedica 4 anos de sua vida em uma universidade, conhecer vários países no mundo, dentre os quais, a China, a partir de um projeto de pesquisa, é exemplo rico de empreendedorismo. 

Pois bem, pagamos um preço bastante caro por conta da miopia política local. Para muitos, o assunto tecnologia é algo lindo de ser visto e ouvido, desde que sejam de fora. Que encanto ouvir notícias dos Estados Unidos (o "Fantástico" adora!) e saber das "novidades" de fora. Ecos de uma elite que deseja exclusivismo? Talvez sim. Mas, a verdade é que a cada dia se torna insuportável a falta de políticas sérias em nossa região para a promoção de uma cultura verdadeiramente empreendedora. 

Assim, deixo aqui o recado. O que faz um lugar são as pessoas, desde que se tenha vontade de fazer. Esta máxima foi percebida por mim em todos os exemplos vitoriosos de empreendedorismo que observei.

Vamos despertar para o problema e começar a fazer algo diferente, empreendendo.





3 Comments:

At 4:43 PM, Anonymous Leonardo Campos , estudante da UNEB. said...

"Bastou ter um trabalho sério, saber mobilizar talentos, para colher excelentes frutos."

É exatamente disso que precisamos para dar-mos excelentes frutos!

 
At 10:49 AM, Anonymous Victor Requião said...

Grinaldo, é este exatamente o ponto. Empreender está além de simplesmente abrir uma empresa, envolve entender do mercado, saber o que é um "business case" e tantas outras variáveis que muitas vezes os profissionais de TI torcem o nariz. TI é negócio, e saber empreender em TI é ir além da computação, é extrair o sumo do nosso tecnológico pensando nas pessoas.

Sobre o mercado local, durante muito tempo tivemos empresas que "ditavam certas regras de desenvolvimento e remuneração", pagando pouco e cobrando muito. Mas enfim, sempre tinha gente indo atrás dela, movimentando uma indústria que presa por processos a serem seguidos sem pensar no profissional por trás, o que poda muitas vezes a inovação. Além das políticas públicas que estão péssimas no mercado baiano de TI, precisamos de um desenvolvimento interno dos profissionais.

Precisei sair de Salvador pra crescer em outros mercados e para crescer dentro da carreira de TI que está além da visão técnica, mas na visão executiva. Porém não me fecho às portas que podem abrir ai, nem à inovação que posso ajudar a construir.

Excelente texto!

Um abraço,

Victor

 
At 11:39 AM, Blogger Soluz said...

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Cara,

Excelente texto sobre algo realmente "incomodativo". Penso que, acerca da ótica do conteúdo lindo aqui, empreender é sobretudo dar valor ao que já é desenvolvido, apreendido e pensado aqui na nossa terra. Ainda não estamos no topo da capacitação, mas por outro lado temos muitos talentos com vontade de se desenvolverem. Onde estão as políticas públicas é uma boa pergunta, mas sobretudo, onde estão os empreendedores das grandes empresas que não dão espaço para pesquisas em seus próprios leitos? Acredito que esta é uma boa questão a ser abordada, haja vista quase tudo que "é nosso" estar nas mãos da iniciativa privada.

Atenciosamente,

Soluz

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