[Reflexão] Por que não eu?
Diz um provérbio que “o diabo mora
nos detalhes”. Há muito tempo, tomo isto como lema para todo e
qualquer trabalho que eu faça. Entretanto, vejo que muitos alunos
meus ainda não se aperceberam sobre este sábio ensinamento.
Recentemente, fiz uma atividade em sala
de aula no qual uma dupla de alunos deveria apresentar uma ideia
qualquer que utilizasse os conceitos de sistemas de informação. Das
apresentações, poucos foram aqueles que criaram slides para
estruturar as ideias e desses nenhum colocou uma figura sequer ou se
preocuparam em melhor diagramar o conteúdo apresentado. Em outras
palavras, era texto puro sem recursos que melhor vendessem sua ideia.
Desta situação, fico pensando o
porquê das apresentações terem sucedido desta forma. Será que não
cobrei devidamente? Será que não ficou explícito a forma que
deveria ser apresentado? Será que não se esforçaram porque acham
que a disciplina não merece uma coisa melhor?
Bem, longe de me sentir culpado pela atitude dos alunos, visto que todos são adultos e com certa bagagem de vida,
enxergo algumas características que julgo importante compartilhar
com vocês.
A primeira delas é que a grande
maioria das pessoas são movidas por alguma recompensa, ou seja,
fazem se acham que vale alguma coisa a pena. A segunda
característica é que muitos vivem o presente e não estão muito
preocupados com o futuro. A terceira é que muitos acham que a sua
atividade atual não terá quaisquer conexões com sua atividade
futura. E a última e mais importante, é que muitas pessoas não
aproveitam as oportunidades que um bom networking pode fazer
em suas vidas.
Expostas estas características, faço
uma pausa para falar um pouco de minha história. Para quem não
sabe, fui aluno da antiga Escola Técnica Federal da Bahia e sinto
muito orgulho por isto. A principal razão deste orgulho é o fato de
que muitas habilidades que tenho hoje aprendi por lá. Uma delas é a
preocupação na apresentação de resultados. Na Escola Técnica
aprendi a elaborar relatórios técnicos e sobretudo ter uma postura
condizente no momento em que fazia quaisquer apresentações de
trabalho – e olha que estou falando de uma época em que powerpoint
era ficção científica e haja cartolina e papel.
Quando ingressei na UFBA, esta
habilidade foi notoriamente captada pelos meus professores. Lembro de
um professor de física que ao receber o meu relatório técnico de
experimento devidamente digitado, impresso e encadernado, me
perguntou sem titubear se eu era egresso da Escola Técnica. Ao
falar que sim, ele replicou: “Logo vi pela qualidade do relatório”.
Neste cenário, acho que não é necessário dizer quanto foi a minha
nota.
Outro fato interessante foi um programa
que entreguei em uma disciplina e que me exigiu horas e horas na
biblioteca do CPD. A internet em 1993 era incipiente no Brasil e nos
virávamos nos livros. A disciplina foi um desafio para mim, visto
que toda a turma havia sido repreendida no início das aulas pelo
comportamento em sala de aula e a situação [ruim] sobrou para todo mundo.
No momento em que entreguei o trabalho, tive a preocupação de fazer
um relatório técnico explicando todo o processo de construção do
software, um manual do usuário, disquete com detalhes
personalizados e todo o material embalado de forma profissional. Para
se ter uma ideia, digitei mais de 250 páginas,
impressas em uma antiga impressora de agulha (saudosa Epson LX 810), de forma
muito trabalhosa de se fazer com o antigo processador de textos wordstar. No
final, valeu a pena. É um dos dez que carrego com orgulho em meu histórico escolar.
Na
esfera profissional, levei este hábito de melhor estruturar meus
trabalhos em relatórios técnicos e apresentações bem organizadas.
E o melhor, faço isto, muitas vezes, como meio natural de mostrar
meu trabalho e fico espantado às vezes ao olhar que muitos não tem
a mesma preocupação.
Assim,
voltando às características que comentei anteriormente, faço aqui
alguns conselhos pertinentes:
- Não meça a qualidade de seu trabalho pela recompensa que obterá. Tenha para si um padrão mínimo de qualidade que seja maior que a média. Acredite, isto irá tirá-lo da zona comum e dará uma guinada na forma como as pessoas te observam.
- O futuro é fruto de seu presente e hoje você colhe o que fez no passado. Para quem já conviveu com os mais diversos profissionais, asseguro para você que dos 100% que dependem uma seleção profissional, 90% é advinda de simples observações de postura. A não ser que você seja um sociopata, mas que cedo ou tarde é descoberto, atitudes verdadeiras e positivas em seu dia-a-dia refletem na sua maneira de se vestir, falar, movimentar e agir. Para quem é macaco velho no ramo, é muito fácil bater o olho e perceber com quem está lidando.
- Não é porque você é aluno agora que vai achar que sua carreira começa quando sair da faculdade. A sua vida profissional está estritamente conectada com o que faz agora. Se você não cultiva bons hábitos, tendo-os ou não, com certeza os levará para o resto da vida. E mais, o mundo é muito pequeno e cedo ou tarde alguém perguntará sobre você. Ser um bom aluno não é tirar boas notas, e sim ter qualidades que o denote entre a maioria, como o empreendedorismo, a perseverança, a boa organização, educação e sobretudo o respeito (neste último, até hoje quando eu encontro um ex-professor, mesmo sendo colega atualmente deles, não vacilo em tratá-lo como Professor (a) fulano/sicrana, afinal, o tempo passa, mas o respeito fica).
- Por fim, lembre-se que sua carreira é construída no contato com as pessoas. Seu colega de sala, trabalho, professor ou qualquer outro parceiro é questão chave para abertura de portas no futuro. Se me perguntarem quantas pessoas eu já indiquei para bons empregos ou oportunidades, confesso que contaria nos dedos. Tenho orgulho em dizer que muitos ex-alunos meus estão em posições de destaque atualmente por conta de alguns contatos meus. Já ajudei a amigos a voltarem para a Bahia em oportunidades salariais que muitos sequer imaginam que existam em solo local. Assim, por conta das boas indicações, vez ou outra, alguma empresa me procura para algumas recomendações que são aproveitadas por quem eu ache que merece.
Para
finalizar, a última dica que dou é que faça seus trabalhos, sejam
escolares ou profissionais, como se fosse a última coisa importante
a acontecer em suas vidas. E mais, façam para você, não para quem
os pedem. Se você acha que merece coisa ruim, então, meu amigo, o
caso é grave e merece um psicólogo e nada mais. Assim, fica a
reflexão “Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Acho que depois de ler todo este texto, já se sabe o porquê...
10 Comments:
Excelente artigo, Grinaldo !
Perfeito prof Grinaldo este artigo esta excelente e outra ao ler este artigo lembrei de um ditado de um coordenador que trata do profissionalismo que também é um assunto abordado diz o seguinte "Eu sento na minha cadeira de trabalho como se fosse o meu primeiro dia e faço meu trabalho como se fosse o ultimo dia" Aquilo me marcou e mudei alguns hábitos e hoje sempre procuro fazer o diferencial.
Como sempre felomenal Pedrinho.
Professor, concordo em gênero, número e grau. Um grande abraço!
Perfeito, Grinaldo.
Dou aula para alunos do primeiro ao quinto semestre, e apesar de notar evoluções nos conteúdos sinto falta de algumas iniciativas mais voltadas para a exploração do "vender a ideia". É claro que existem alunos que captam essa necessidade de evolução, mas muitos optam pela filosofia mais simples do "aquilo que funcionou no semestre passado vai funcionar outra vez". Tento muito incentivar a evolução nesse aspecto porque, como você, sei o que o mercado valoriza.
Parabéns pelo artigo Grinaldo.
Deixo como sugestão que os alunos pensem em cursos complementares para pensarem fora da caixa. Cursos de Vendas, Marketing, Adm., etc.
Nossa percepção tem que ser mais ampla.
Nunca o conhecimento esteve tão disponível ao ponto de muitos não saberem o que fazer com ele.
Abraço.
Muito bom o texto, que sirva de reflexão para nós todos.
Este comentário foi removido pelo autor.
Perfeito como sempre. Parabens Grinaldo e obrigado pelo texto.
Muito bom!!
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