sexta-feira, fevereiro 07, 2014

[Reflexão] Por que não eu?

Diz um provérbio que “o diabo mora nos detalhes”. Há muito tempo, tomo isto como lema para todo e qualquer trabalho que eu faça. Entretanto, vejo que muitos alunos meus ainda não se aperceberam sobre este sábio ensinamento.

Recentemente, fiz uma atividade em sala de aula no qual uma dupla de alunos deveria apresentar uma ideia qualquer que utilizasse os conceitos de sistemas de informação. Das apresentações, poucos foram aqueles que criaram slides para estruturar as ideias e desses nenhum colocou uma figura sequer ou se preocuparam em melhor diagramar o conteúdo apresentado. Em outras palavras, era texto puro sem recursos que melhor vendessem sua ideia.

Desta situação, fico pensando o porquê das apresentações terem sucedido desta forma. Será que não cobrei devidamente? Será que não ficou explícito a forma que deveria ser apresentado? Será que não se esforçaram porque acham que a disciplina não merece uma coisa melhor?

Bem, longe de me sentir culpado pela atitude dos alunos, visto que todos são adultos e com certa bagagem de vida, enxergo algumas características que julgo importante compartilhar com vocês.

A primeira delas é que a grande maioria das pessoas são movidas por alguma recompensa, ou seja, fazem se acham que vale alguma coisa a pena. A segunda característica é que muitos vivem o presente e não estão muito preocupados com o futuro. A terceira é que muitos acham que a sua atividade atual não terá quaisquer conexões com sua atividade futura. E a última e mais importante, é que muitas pessoas não aproveitam as oportunidades que um bom networking pode fazer em suas vidas.

Expostas estas características, faço uma pausa para falar um pouco de minha história. Para quem não sabe, fui aluno da antiga Escola Técnica Federal da Bahia e sinto muito orgulho por isto. A principal razão deste orgulho é o fato de que muitas habilidades que tenho hoje aprendi por lá. Uma delas é a preocupação na apresentação de resultados. Na Escola Técnica aprendi a elaborar relatórios técnicos e sobretudo ter uma postura condizente no momento em que fazia quaisquer apresentações de trabalho – e olha que estou falando de uma época em que powerpoint era ficção científica e haja cartolina e papel.

Quando ingressei na UFBA, esta habilidade foi notoriamente captada pelos meus professores. Lembro de um professor de física que ao receber o meu relatório técnico de experimento devidamente digitado, impresso e encadernado, me perguntou sem titubear se eu era egresso da Escola Técnica. Ao falar que sim, ele replicou: “Logo vi pela qualidade do relatório”. Neste cenário, acho que não é necessário dizer quanto foi a minha nota.

Outro fato interessante foi um programa que entreguei em uma disciplina e que me exigiu horas e horas na biblioteca do CPD. A internet em 1993 era incipiente no Brasil e nos virávamos nos livros. A disciplina foi um desafio para mim, visto que toda a turma havia sido repreendida no início das aulas pelo comportamento em sala de aula e a situação [ruim] sobrou para todo mundo. No momento em que entreguei o trabalho, tive a preocupação de fazer um relatório técnico explicando todo o processo de construção do software, um manual do usuário, disquete com detalhes personalizados e todo o material embalado de forma profissional. Para se ter uma ideia, digitei mais de 250 páginas, impressas em uma antiga impressora de agulha (saudosa Epson LX 810), de forma muito trabalhosa de se fazer com o antigo processador de textos wordstar. No final, valeu a pena. É um dos dez que carrego com orgulho em meu histórico escolar.

Na esfera profissional, levei este hábito de melhor estruturar meus trabalhos em relatórios técnicos e apresentações bem organizadas. E o melhor, faço isto, muitas vezes, como meio natural de mostrar meu trabalho e fico espantado às vezes ao olhar que muitos não tem a mesma preocupação.

Assim, voltando às características que comentei anteriormente, faço aqui alguns conselhos pertinentes:
  • Não meça a qualidade de seu trabalho pela recompensa que obterá. Tenha para si um padrão mínimo de qualidade que seja maior que a média. Acredite, isto irá tirá-lo da zona comum e dará uma guinada na forma como as pessoas te observam.
  • O futuro é fruto de seu presente e hoje você colhe o que fez no passado. Para quem já conviveu com os mais diversos profissionais, asseguro para você que dos 100% que dependem uma seleção profissional, 90% é advinda de simples observações de postura. A não ser que você seja um sociopata, mas que cedo ou tarde é descoberto, atitudes verdadeiras e positivas em seu dia-a-dia refletem na sua maneira de se vestir, falar, movimentar e agir. Para quem é macaco velho no ramo, é muito fácil bater o olho e perceber com quem está lidando.
  • Não é porque você é aluno agora que vai achar que sua carreira começa quando sair da faculdade. A sua vida profissional está estritamente conectada com o que faz agora. Se você não cultiva bons hábitos, tendo-os ou não, com certeza os levará para o resto da vida. E mais, o mundo é muito pequeno e cedo ou tarde alguém perguntará sobre você. Ser um bom aluno não é tirar boas notas, e sim ter qualidades que o denote entre a maioria, como o empreendedorismo, a perseverança, a boa organização, educação e sobretudo o respeito (neste último, até hoje quando eu encontro um ex-professor, mesmo sendo colega atualmente deles, não vacilo em tratá-lo como Professor (a) fulano/sicrana, afinal, o tempo passa, mas o respeito fica).
  • Por fim, lembre-se que sua carreira é construída no contato com as pessoas. Seu colega de sala, trabalho, professor ou qualquer outro parceiro é questão chave para abertura de portas no futuro. Se me perguntarem quantas pessoas eu já indiquei para bons empregos ou oportunidades, confesso que contaria nos dedos. Tenho orgulho em dizer que muitos ex-alunos meus estão em posições de destaque atualmente por conta de alguns contatos meus. Já ajudei a amigos a voltarem para a Bahia em oportunidades salariais que muitos sequer imaginam que existam em solo local. Assim, por conta das boas indicações, vez ou outra, alguma empresa me procura para algumas recomendações que são aproveitadas por quem eu ache que merece.
Para finalizar, a última dica que dou é que faça seus trabalhos, sejam escolares ou profissionais, como se fosse a última coisa importante a acontecer em suas vidas. E mais, façam para você, não para quem os pedem. Se você acha que merece coisa ruim, então, meu amigo, o caso é grave e merece um psicólogo e nada mais. Assim, fica a reflexão “Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”. Acho que depois de ler todo este texto, já se sabe o porquê...

10 Comments:

At 11:52 AM, Blogger Unknown said...

Excelente artigo, Grinaldo !

 
At 12:27 PM, Blogger Eber Santana said...

Perfeito prof Grinaldo este artigo esta excelente e outra ao ler este artigo lembrei de um ditado de um coordenador que trata do profissionalismo que também é um assunto abordado diz o seguinte "Eu sento na minha cadeira de trabalho como se fosse o meu primeiro dia e faço meu trabalho como se fosse o ultimo dia" Aquilo me marcou e mudei alguns hábitos e hoje sempre procuro fazer o diferencial.

 
At 12:37 PM, Anonymous Anônimo said...

Como sempre felomenal Pedrinho.

 
At 5:18 PM, Blogger Rui Santos said...

Professor, concordo em gênero, número e grau. Um grande abraço!

 
At 8:06 PM, Blogger Eduardo Xavier said...

Perfeito, Grinaldo.
Dou aula para alunos do primeiro ao quinto semestre, e apesar de notar evoluções nos conteúdos sinto falta de algumas iniciativas mais voltadas para a exploração do "vender a ideia". É claro que existem alunos que captam essa necessidade de evolução, mas muitos optam pela filosofia mais simples do "aquilo que funcionou no semestre passado vai funcionar outra vez". Tento muito incentivar a evolução nesse aspecto porque, como você, sei o que o mercado valoriza.

 
At 8:09 PM, Blogger Unknown said...

Parabéns pelo artigo Grinaldo.

Deixo como sugestão que os alunos pensem em cursos complementares para pensarem fora da caixa. Cursos de Vendas, Marketing, Adm., etc.

Nossa percepção tem que ser mais ampla.

Nunca o conhecimento esteve tão disponível ao ponto de muitos não saberem o que fazer com ele.

Abraço.

 
At 5:49 PM, Blogger Security Technology said...

Muito bom o texto, que sirva de reflexão para nós todos.

 
At 10:11 PM, Blogger Zenildo Silva said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 10:25 PM, Blogger Zenildo Silva said...

Perfeito como sempre. Parabens Grinaldo e obrigado pelo texto.

 
At 11:00 AM, Anonymous João Paulo said...

Muito bom!!

 

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