domingo, março 02, 2008

[P&D] Novo software desenvolvido por empresa na Bahia vai monitorar qualidade da cachaça brasileira

Excelente exemplo de que a inovação tecnológica integrada às faculdades locais só tem gerados bons frutos.
---------------

Dados de entidades ligadas ao setor de cachaça no Brasil revelam que a produção da “branquinha” de alambique gira em torno de 1,5 bilhão de litros por ano no país, porém menos de 1% é considerado de qualidade. Na tentativa de mudar este cenário, uma empresa baiana está desenvolvendo um software inédito que permitirá rastrear todas as etapas da produção da cachaça, além de oferecer dados suficientes para melhorar a gestão dos empreendimentos. O programa, que já está em fase de teste, deverá estar disponível a partir do início do segundo semestre.


O diretor da EQS Informática, empresa que está desenvolvendo o software, Fabrício Campos, explica que a iniciativa nasceu de duas vertentes. Primeiro, da necessidade dos produtores da Associação Brasileira de Cachaça de Qualidade (ABCQ) de reconhecer a bebida fabricada no país. Segundo, da vontade do Arranjo Produtivo Local de Tecnologia da Informação (APL de TI) de desenvolver um produto inovador. “Como já existia um edital em aberto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) para financiar desenvolvimento de sistema, juntamos a fome com a vontade de comer”, brinca.


Segundo Campos, o software de controle da produção da cachaça está sendo aplicado a todas as etapas de produção da bebida, desde o plantio da cana-de-açúcar até o envase, incluindo a distribuição e gestão de recursos. “A grande vantagem do sistema é que ele vai obrigar os produtores a passar por um processo de qualificação”, ressalta, informando que a equipe de trabalho é formada por dois especialistas em cachaça, dois mestres em desenvolvimento de sistemas e dois programadores. Além disso, o projeto conta com a participação da FTC, FTE e da consultoria Agroindustrial BFLM Ltda.


Para o dirigente, os custos envolvidos na produção da “branquinha”, quando não controlados, comprometem a lucratividade e a sobrevivência da empresa, além da qualidade do produto, uma vez que todos os mecanismos atualmente usados são baseados em planilhas simples ou softwares adaptados. Com a inovação, os produtores poderão registrar todos os dados relativos a investimentos, insumos, mão-de-obra, capital de giro, procedimentos técnicos, custos, dentre outros. “Utilizando o software, a redução de perdas da empresa pode chegar a 30% da produção”, garante ele.


A perspectiva de Campos é que, de posse desses relatórios, as associações e representantes de produtores identifiquem, com mais facilidade, os problemas existentes na cadeia produtiva, formulando diagnósticos indispensáveis para a proposição de políticas públicas para o setor. O software, que tem como fundamento os parâmetros do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está sendo desenvolvido a partir de recursos acima de R$100 mil, destinados a fundo perdido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e Fapesb.


Campos informa ainda que o título de cessão de uso do software deverá exigir um custo mensal médio de R$50 para o produtor, valor que poderá variar em função do número de módulos solicitados – cada etapa produtiva equivalerá a um módulo. A EQS Tecnologia projeta a locação e implantação de 200 cópias do sistema, no primeiro ano. No segundo ano, a estimativa aumenta para mais 300 cópias e, no terceiro, o acréscimo de mais 300 cópias. “A taxa de retorno do investimento deve superar a margem de 40% no prazo de dois anos. A comercialização terá como premissa básica a construção de um software auto-explicativo, bem documentado, com um sistema de help-desk on-line, via ambiente virtual”, finaliza o diretor da EQS Informática.


De acordo com dados da Federação Nacional das Associações de Produtores de Cachaça (Fenaca), o número de estabelecimentos produtores da bebida ultrapassa a casa das 30 mil unidades no país. A Fenaca estima ainda a existência de mais de 150 mil empregos diretos. A Bahia é o segundo maior produtor de cachaça de alambique do Brasil, perdendo apenas para Minas Gerais, com o volume de 50 milhões de litros por ano. Estima-se que apenas um milhão de litros são produzidos formalmente no estado, onde existem cerca de sete mil alambiques, dos quais cerca de 99% clandestinos.