domingo, abril 19, 2009

[Mercado] Brasil não convence sobre exportação de serviços de TI



É uma afirmação bastante séria, visto que o país "prometia" muito como exportador de TI, há algum tempo atrás. Sem dúvida, enquanto mantivermos a mentalidade de que para ser "dotô" é necessário investir em outras profissões que não aquelas ligadas à TI, estaremos relegados ao segundo ou terceiro ou último, quem sabe, plano no mercado de tecnologia mundial. Concordo com a Camila que falta interesse público, um investimento maior em educação, principalmente em matemática de base e línguas estrangeiras. 

Para os que acham que a coisa muda da noite pro dia, é bom alertar que em países que já alcançaram patamares invejáveis de desenvolvimento os resultados chegam após 15 anos, pelo menos, de investimento em educação. 

Em todo o caso, educação de qualidade é algo que "preocupa" e muito nossos atuais políticos, assim fico despreocupado com o nosso futuro...

Por Camila Fusco | 18/04/2009 - 21:17

O Brasil anda perdendo a mão nas formas de convencer investidores estrangeiros sobre o potencial da exportação de serviços de tecnologia. Ou melhor, anda perdendo o verbo. Isso ficou ainda mais evidente nas apresentações sobre o tema feitas durante o Fórum Econômico Mundial, no Rio de Janeiro.

Conversei na sexta-feira (17/04) com Magid Abraham, CEO da consultoria norte-americana comScore, que esteve presente na apresentação da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), feita na terça-feira (14/04). E a impressão não foi nada boa. "O país simplesmente não conseguiu convencer sobre seu potencial", disse ele aos Zeros e Uns. Segundo Abraham, o discurso ficou focado no nível de desenvolvimento bancário do país, no fuso horário competitivo e no avanço que a votação eletrônica representa. "Todos esses são argumentos, mas são fracos para convencer qualquer um a investir", afirma Abraham.

Realmente é necessário concordar com Abraham. Tudo bem que o sistema de votação eletrônica faz inveja a vários países, mas desenvolvimento bancário? Isso é obrigação de um país do porte do Brasil e não vantagem competitiva. Fuso horário? Tudo bem, mas não é algo exclusivo para o Brasil. Outros países fortes da região estão na mesma condição.

Além disso, aspectos importantes como o número de engenheiros formados por ano e a qualidade da mão-de-obra sequer foram mencionados, um erro grosseiro para quem quer atrair alguns dólares da terceirização offshore para cá. Para piorar, vieram à tona aspectos como o custo 25% mais alto dos serviços brasileiros, causados em boa parte pelos encargos trabalhistas, e a deficiência no idioma inglês.

Resumo da ópera, foi desastroso. Para um país que pretende ser uma alternativa viável à Índia e desbancar fortes concorrentes na Ásia, no Leste Europeu e ainda na própria América Latina -- que tem fortes competidores com o México e Argentina -- o Brasil desafina. E o problema não está só no discurso que não convence. Na verdade, toda a retórica infeliz é reflexo de falta de dados, de bons números e de boas iniciativas governamentais. Não há políticas públicas eficientes que apóiem a capacitação em inglês e os incentivos fiscais para exportação de serviços de TI são pífios.

O número de profissionais formados em tecnologia todos os anos decepciona. E provavelmente é por isso que eles não foram mencionados na apresentação. Em 2008 foram 41 000 pessoas formadas em carreiras ligadas a TI. A estimativa da Brasscom é que seriam necessários pelo menos 100.000 profissionais formados por ano dedicados exclusivamente aos contratos com clientes estrangeiros para suprir a demanda vindoura em 2011. A Índia forma por ano nada menos do que 400 000 profissionais em tecnologia. Dez vezes mais que o Brasil. E com essa base sólida de números, os indianos abocanharam nada menos do que 60% do mercado mundial de terceirização de tecnologia.

Enquanto questões importantes como essa não forem resolvidas, provavelmente o Brasil continuará "querendo ser". E fazendo feio em apresentações. Sem números que convençam os investidores, o discurso permanece, no mínimo, vazio.