Fonte:
Convergência DigitalApós um período interessante de ausência, voltemos ao ar com uma reportagem super interessante sobre o cenário de TI na Bahia editada por Camilo Telles no site Convergência Digital. Vale a pena dar uma lida na reflexão feita.
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Do ponto de vista da indústria de software, a Bahia tem um conjunto de empresas que se destacam tanto na prestação de serviços como na atuação no mercado de produtos. Aqui se concentra o maior número de empresas com certificação CMM/CMMi do Norte/Nordeste, tanto nos níveis CMM2 como o CMM3 e, até o final do ano de 2007, teremos a primeira certificada CMMi 5.
No começo de 2007 demos início ao projeto de qualificação em MPS.Br para empresas locais com o diferencial de fomentar a formação de consultores baianos. Esta quantidade de empresas com uma cultura de qualidade traz como conseqüência a dispersão destes princípios por toda a comunidade.
Com relação ao mercado de produtos, a nossa atuação é significativa, com empresas atuando no mercado nacional e internacional em áreas tão diversas como aplicações de telefonia, sistemas para saúde industrial, gestão de concessionárias, softphones, gerenciamento de conteúdo, gestão de manutenção, sistemas para BSC etc.
A recente instalação do projeto da ALTIS com a IBM e do Centro de Inovação da Microsoft com a UNEB somente colaboram para o fortalecimento do ecossistema. Segundo a pesquisa do IBGE divulgada em 2003, o setor de serviços de TIC fatura em torno de R$ 400 milhões, sendo líder do Norte/Nordeste em número de empresas e pessoas ocupadas.
Nosso setor acadêmico também tem evoluído nos últimos anos. Entre 2002 e 2006 o número de doutores relacionados ao setor de computação na Bahia saiu de 5 para 65. Não tínhamos mestrado nem doutorado. Hoje já se contam 4 mestrados e o doutorado multi-institucional com a participação da UFBA, UEFS e UNIFACS. Na graduação, há cerca de 8.000 alunos para atender à demanda crescente do nosso Estado, o maior número de vagas da Região Nordeste.
O governo tem uma dupla atuação neste cenário. De um lado, como construtor das políticas públicas estaduais e, do outro como, comprador. Do ponto de vista da construção de políticas públicas ocorreu uma mudança positiva quando foi criada, em 2003, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Durante os anos anteriores não existia na esfera estadual um canal de interlocução do setor com o governo. A SECTI veio desempenhar esta função permitindo a articulação e a construção de uma governança do setor, que é composta de empresários, academia e entidades de apoio. Esta governança possui uma agenda definida e grupos de trabalho que discutem e propõem ações para acesso a novos mercados, qualificação empresarial e técnica e inovação tecnológica, pontos críticos para o desenvolvimento do segmento.
Como uma das entidades de apoio, é necessário reconhecer a importância do SEBRAE-Ba que foi um parceiro de primeira hora de todo o projeto e entendeu a necessidade de atuação junto a um setor composto basicamente de pequenas e médias empresas. O SEBRAE-Ba possibilitou uma aproximação do Arranjo Produtivo de Tecnologia da Informação com as demais cadeias produtivas apoiadas pela instituição, principalmente com a cadeia de Petróleo e Gás.
De forma conjunta foi construída uma série de programas e ações. No âmbito da inovação tecnológica foram elaborados editais para aproximação da indústria e academia, como o Bahia Inovação (PAPPE) e os editais de apoio ao desenvolvimento de softwares inovadores, além do programa Juro-Zero em parceria com o FINEP. Em 2006 todos os pedidos de bolsas para mestrado e doutorado submetidos à FAPESB foram aprovados e foi realizado um esforço significativo na criação do doutorado.
Cabe destacar ainda o programa de qualificação gerencial baseado no PNQ (Prêmio Nacional da Qualidade). Esta metodologia faz parte das ações do programa Empresa Competitiva Bahia, que captou U$16,6 milhões, com recursos do BID e do governo do Estado para apoio a arranjos produtivos. Tecnologia de Informação é um dos arranjos-piloto.
O SOFTEX Salvador apóia a iniciativa através da realização freqüente de cursos e palestras para o desenvolvimento técnico e gerencial das empresas e gerindo o programa de qualificação MPS/Br. Com o aumento da pós-graduação e os editais de inovação, vislumbra-se a criação de novas empresas de base tecnológica. Para auxiliar neste processo, o SOFTEX também está remodelando a incubadora tecnológica com convênios já firmados com outras incubadoras nacionais e internacionais, além de uma rede de relacionamentos com investidores-anjos e de capital empreendedor.
Do ponto de vista do Estado como comprador, foi iniciado o programa Quali.Info, que tem como objetivo padronizar os processos de compra do governo com critérios únicos entre os órgãos/entidades estatais e incentivando à qualificação gerencial e técnica das empresas do Estado. Este programa ainda precisa ser aprimorado e institucionalizado.
Ainda falta criar uma política de compra estratégica. A compra estratégica ocorre quando, ao contrário de comprar mais do mesmo, é contratado algo que gera uma nova tecnologia ou mercado, sem existência de legado, que possa ter na compra governamental o seu indutor.
Existem pontos em que ainda somos deficientes. Assim como no resto do Brasil, é necessário um programa amplo de qualificação em inglês. Além disso, os empresários baianos não têm o costume de acessar recursos de incentivo à inovação oriundos de editais da FINEP e outras entidades. Bases deste programa foram definidas entre a SECTI, as empresas do setor e as instituições educacionais. Adicionalmente, é necessária uma maior articulação do governo estadual com o federal para fomentar este tipo de iniciativa.
Considerando o cenário apresentado, o cenário para os próximos anos é positivo. O que necessitamos atualmente é o aprofundamento das iniciativas já tomadas e um maior esforço na canalização dos recursos federais para complementar os recursos estaduais já investidos.
O volume de recursos aportados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e por suas agências, destacadamente a FINEP, é incompatível com a representatividade que o setor possui na região e no País. Há que também haver um esforço, concomitante, das instituições de pesquisa e empresas em captar recursos.
Para tanto, é importante que as organizações e as empresas adquiram capacitação na elaboração de projeto, alinhamento às políticas federais, especialmente, a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). O setor ainda espera ser contemplado por um programa semelhante aos que já incentivam a indústria de microeletrônica e de montagem de computadores, iniciativas que foram reforçadas no lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.
O governo estadual, por meio da SECTI, deve continuar apoiando e ampliar as iniciativas de captação de recursos do governo federal. A recente participação do novo secretário de Ciência, Tecnologia e Informação, Ildes Ferreira de Oliveira, e o seu discurso na posse da nova diretoria da ASSESPRO-Ba são indicativos de interesse para com o setor.